Como o senhor avalia a sua gestão frente à diretoria da Regional São Paulo da SBCP, no biênio 2008-2009?
Entendo que fizemos uma administração voltada para a conciliação.
Procuramos dar sequência às iniciativas do meu antecessor, além de ouvir sugestões de inúmeros colegas respeitados e responsáveis pelos diversos serviços credenciados pela SBCP, em nosso Estado.
Por outro lado, corrigimos alguns desvios de rumo, tentando priorizar as atividades acadêmico-científicas, sempre privilegiando os interesses da maioria dos associados.
Quais foram as principais realizações em sua gestão?
Como sou de Jaú, procuramos dar ênfase às nossas jornadas do Interior, ofertando aos colegas das diversas regiões de São Paulo a possibilidade de crescer cientificamente e, por outro lado, estimular o congraçamento entre os colegas.
É mister dizer que, na nossa gestão, contei com o suporte de três exponenciais colegas e amigos, sem os quais, jamais obteríamos o êxito que logramos. A saber, Dr. Carlos Alberto Komatsu, na Secretaria, Dr. Eugenio Cação, na Tesouraria, e Drª Cláudia Machado, no comando do DEC.
Ressalto que tivemos a participação de dezenas de colegas, responsáveis pelos vários departamentos e comissões, que fizeram parte da espinhosa tarefa de gerenciar a nossa instituição.
Do ponto de vista institucional, demos respaldo ao presidente da SBCP Nacional, Dr. Tariki, no dever de proteger a SBCP dos invasores de nossa especialidade que, já àquela época, tentavam se locupletar de procedimentos da Cirurgia Plástica, causando danos irreparáveis, não somente aos pacientes, mas também ao prestigioso e notável conceito que a SBCP sempre granjeou junto às demais entidades de classe médica e à população em geral.
Tivemos, à ocasião, um departamento jurídico extremamente ativo que muito nos ajudou.
Finalmente, nas questões administrativas, pautamos nossa conduta com irrestrito respeito aos recursos da Regional São Paulo. Sempre digo, que – Com o meu dinheiro faço o que bem entendo. Com o dinheiro dos outros, sou obrigado a dedicar zelo e transparência plenos sobre como e porque estou usando.
Acho que fomos vitoriosos também nesse sentido, visto que conseguimos nos desfazer da sede antiga, situado à Av. Pacaembu, um imóvel, à ocasião, acanhado e antifuncional, e adquirimos, pagamos e inauguramos a sede atual da Regional São Paulo, na Rua Mato Grosso, em um prédio estiloso do bairro de Higienópolis, região nobre de São Paulo.
Para nosso orgulho, atualmente segue sendo nossa sofisticada “casa” em São Paulo.
Não bastasse tudo isso, ainda deixamos dinheiro em caixa para que o nosso sucessor, Dr. Komatsu, a quem apoiamos, desse início à sua profícua gestão, logo em seguida.
Qual é, em sua visão, a importância e as principais atividades da maior Regional da SBCP?
Resta claro que, em que pese meu profundo respeito às demais Regionais, a nossa Regional São Paulo detém a maioria das mais importantes e referendadas universidades do país. Isto posto, e pour cause, aqui também se localiza a maioria dos serviços credenciados da SBCP, razão pela qual nossa responsabilidade é proporcional ao tamanho de toda esta estrutura.
Sinto-me muito confortável ao afirmar que temos uma pletora de colegas dotados de competência, ética e disposição para gerir os destinos da Regional
São Paulo. Redundante seria enumerar as prioridades que, sob a minha óptica, seguem sendo as mesmas que me pautaram há cerca de 15 anos.
Faço porém uma última observação, qual seja, a de que a Regional São Paulo, através de um projeto que, naturalmente, envolva a SBCP Nacional passe, de forma oficial, a oferecer estágios curriculares aos residentes de serviços credenciados de estados mais carentes. Vejo que isto é uma forma de suavizar essa assimetria de ensino entre as diversas regiões do país.
Qual futuro no qual o senhor acredita para o melhor desempenho da Regional São Paulo, frente aos seus sócios?
Deixarei de lado o plural majestático, para fazer reflexões pessoais sobre o futuro da nossa instituição.
Penso que a SBCP, assim como o ensino da Cirurgia Plástica, precisa ser reinventada! Tenho inquietudes relacionadas a dois fatores. O primeiro diz respeito à promiscuidade do ambiente em que vivemos, contaminado pela presença de transgressores oriundos de outras profissões que invadem a nossa especialidade que, usurpando procedimentos da Cirurgia Plástica e da Dermatologia, causam desastres.
Estamos assistindo a uma pletora de publicidade por parte de dentistas, fisioterapeutas, enfermeiros, até esteticistas (!) praticando criminosamente procedimentos muitas vezes invasivos… Isto tudo com a leniência da nossa justiça e, por vezes, dos nossos próprios órgãos de classe que, se são lenientes, são cumplices das tragédias do nosso cotidiano.
Não sou saudosista, mas penso que a divulgação do que fazemos (e bem!), no âmbito da publicidade, não só pode como deve ser autorizada, desde que haja critério profissional e regramento das matérias. Isso é essencial para mostrarmos o que, como e porque a Cirurgia Plástica deve ser exercida pelo cirurgião plástico!
Por outro lado, até que haja uma jurisprudência de que a nossa especialidade é de meio não de fim (!!!), resta insano divulgar, na mídia, imagens de pré-operatório e pós-operatório, entre outros desvarios, dando ao paciente a prova da promessa de resultado.
Sempre defendi a tese de qualidade, jamais de quantidade. De nada adianta despejarmos no mercado mais de 250 cirurgiões plásticos ao ano, se não lhes fornecemos preparo teórico-prático mínimamente condizente com as atividades profissionais, muitas vezes denegrindo o nome da SBCP, nossa matriz formadora!
Na minha gestão como presidente da SBCP Nacional descredenciei serviços e reduzi vagas entre outras tantas condutas. Arrependo-me por não ter sido mais austero.
Por derradeiro, hoje temos 23 áreas de atuação dentro da Cirurgia Plástica, o que torna absolutamente inviável (!) que os serviços credenciados dêem proficiência aos alunos em todas estas “sub-especialidades”. Imaginar que isto é viável é puro exercício de farisaísmo. Assim posto, e por muito mais, será preciso reinventar a SBCP e a nossa especialidade.
Tenho três filhos cirurgiões plásticos, todos bem formados na escola do Prof. Pitanguy. Porém, cada qual se dedica, mais ou menos, a áreas distintas. Por isso, estou convicto que, mutatis mutandis, já ocorre na Cirurgia Plástica o que marcou a Cirurgia Geral, há décadas, quando passaram a coexistir ”super-especialistas” devotados a uma única sub-especialidade. Espero que, com a correção dos desvios de rumo, continuemos, com orgulho, a exercer esta única e fascinante área da Medicina.