Dr. Eduardo, fale-nos, por favor, sobre sua formação e trajetória profissional junto à SBCP.
Desde criança, a cirurgia plástica foi parte importante da minha vida. Lembro-me de acompanhar meu pai, o Dr. Edwald Merlin Keppke, em inúmeros eventos médicos e sociais, nos quais tive a oportunidade e a honra de conhecer os maiores nomes da cirurgia plástica mundial. Em 2006, após concluir minha residência em cirurgia plástica, no serviço do Dr. Antônio Carlos Abramo, tirei o meu titulo de especialista.
Neste mesmo ano, perdi o meu amigo Vitor Negrete, no Everest. Nessa época, era comum uma morte para cada 10 montanhistas que atingiam o cume.
Em 2011, tornei-me membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Como o montanhismo lhe conquistou e passou a fazer parte de suas atividades?
Após ler o livro “No Ar Rarefeito”, do escritor Jon Krakauer, que relata uma tragédia ocorrida no Everest, em 1996, fiquei curioso para conhecer melhor este mundo peculiar.
Em 1999, juntamente com a Drª Ana Elisa Boscarioli, também cirurgiã plástica, segui para Katmandu, no Nepal, rumo ao acampamento base do Everest e ao desconhecido.
Com o sucesso dessa primeira expedição, me propus, despretensiosamente, a escalar uma montanha por ano, com o sonho de completar o projeto “Sete Cumes”, que consiste em escalar a montanha mais alta de cada continente, incluindo os polos.
Em 2013, com a proteção divina, consegui realizar o meu sonho e então me tornei o sexto brasileiro a escalar o monte Everest e o segundo a completar os “seven summits”, entre outras diversas montanhas.
2001 | Monte Aconcágua (Argentina) | 6959 m |
2003 | Monte Kilimanjaro (África) | 5895 m |
2006 | Monte Elbrus (Rússia) | 5633 m |
2007 | Denali ou McKinley (Alasca) | 6194 m |
2008 | Monte Everest (Nepal) | 8850 m |
2012 | Maciço Vinson (Antártica) | 4894 m |
2012 | Kosciuszko (Austrália) | 2228 m |
2013 | Pirâmide Carstensz (Papua-Nova Guiné) | 4884 m |
Como conciliar a cirurgia plástica como profissão e o montanhismo como esporte?
Para conciliar a minha profissão com o montanhismo, procuro programar as viagens com bastante antecedência. Além disso, cabe enfatizar que sempre pude contar com a ajuda e o apoio incondicional do meu pai na realização dos meus sonhos.
Quais os maiores desafios no desenvolvimento e objetivos a serem alcançados no montanhismo?
O montanismo é um esporte complexo, quase uma religião, em que os preparos físico, psicológico e técnico têm o mesmo peso.
Frequentemente, mais difícil que a própria escalada, são os preparativos (a logística). Para escalar o Everest, por exemplo, passei quase três meses viajando, sem mencionar os custos de uma expedição dessa magnitude.
As privações são inúmeras, entre elas: a saudade da família, a privação do sono, o frio extremo, as más condições de higiene e a incerteza de voltar para casa.
Apesar das dificuldades, faria tudo novamente, pois as conquistas e as experiências são únicas e insubstituíveis. Você passa a se conhecer melhor e tem a oportunidade de fazer amigos verdadeiros.
O caminho é árduo, mas se torna mais importante e prazeroso do que a própria chegada. O tão sonhado cume é apenas um bônus diante de tudo que foi vivido. Pode parecer que ele é a meta final, mas, ao atingi-lo, você estará apenas na metade do caminho, pois o real objetivo é retornar em segurança para casa.